Diálogo bibliófilo


— Li há tempos uma notícia sobre a compra de livros para decoração no Brasil. Não é uma novidade, bem sei, mas falavam em encadernações de papel em branco ou revistas velhas que se vendiam para o efeito. Perante isto, uma decoradora, supostamente reputada, aconselhava a que fossem usados livros verdadeiros. Aqui também há disso? — perguntou o bibliófilo.

— Livros a metro? Há que tempos! Mas não são essas falsificações. De qualquer modo, não são para ler... — respondeu o alfarrabista.

— É pá! Custa-me sempre ouvir essas coisas. Aconteceu-lhe alguma? — lançou o bibliófilo, esperando uma daquelas histórias que os livreiros têm sempre prontas a contar.

— Uma vez vendi uma série de livros com belas encadernações para decorar a sala do conselho de administração de um banco. Aquilo era grande e faltava preencher as últimas prateleiras. Como não tinha mais encadernados, sugeri as obras completas de Lenine e Marx. — revelou com um sorriso de escárnio.

— E eles aceitaram?

— Sim, sem qualquer problema. Disseram-me apenas que ficavam lá em cima.

— Belos capitalistas! — exclamou o bibliófilo, rindo.

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