O Tributo

A Definição e Elucidação da Fé foram grandes. Mas num tempo em que pouco se lê e menos se pensa, o desinteresse pessoal, em directo e sob os holofotes, pode ser a contribuição maior para o rebanho que somos: Ter o mando supremo na Terra e dele abdicar, arrasando os temores de bicefalia fautora de hidras, com o preito de submissão expresso não é para todos, no mundinho em que a Vaidade reclama sempre mais e mais direitos.

Refutação do(s) Fracasso(s)

Leitura do livro de Jaime Nogueira Pinto «ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR O OUTRO RETRATO». É excelente síntese, coroando o muito que o Autor tem corajosamente escrito sobre a natureza, razão, factualidade e consequências do combate governativo constante empreendido pelo único Gigante que à frente da Coisa Pública tivemos, nos últimos dois séculos, já que se a D. Miguel, João Franco e Sidónio não terá faltado a percepção do sentido e do sentir devidos, bem como a generosidade, nos três rareou o tempo, o saber e o reconhecimento coevo. Aqui, num volume sem palha, são tocados todos os pontos fulcrais, com o brinde da aclaração de episódios significativos da Pequena História muitas vezes adulterados na reprodução que se ouve e com a desmitificação, sem ocultar ou corroborar, dos aspectos da auto-defesa do Estado Novo que pelos seus antagónicos sucessores foi transformada numa «repressão asfixiante» por ninguém imparcial notada na época. Realça-se, sobretudo, a disparidfade da dimensão entre o que o País fora e a daquilo que a vida política das intrigas o tornara e tornaria, momentaneamente mediadas pela grandeza de um Homem e de um território ainda pluricontinental pemanentemente acossados e lutando por perdurar. Mas não se pode concordar com o balanço, em que nos é dito que, mesmo considerando toda a imperatividade e tamanho da sua luta, a acção de Salazar teria fracassado, pelo oposto que lhe sucedeu. Isso equivaleria a dizer que o Império Romano foi um falhanço, porque, mil anos depois de Augusto, os Turcos entraram em Constantinopla. Os regimes, como os homens, não são eternos e os que têm responsabilidades na condução dos povos só devem ver o seu êxito ou perda avaliados pelo que se passou no decurso da sua vida. O que importa é ter feito e como se fez a parte que lhe cabe. Enquanto o Presidente do Conselho foi vivo, não cedeu e, com ele, nós, a Nação, não cedemos. O entreguismo dos epígonos não é para aqui chamado, que a imputabilidade aponta direitinho para eles e só para eles. Da mesma forma, não coincidimos com o que escreve quando fala no regresso dos partidos e em para eles, presentemente, se não vislumbrar alternativa. Esta continua presente na Doutrina Tradicionalista e, justamente pelo carácter mais ou menos efémero das instituições, há-de dar o passo em frente em nova hora de glória, quando e se for servida por defensores capazes. Que devem formar-se no culto do que de imperecível há na actuação Salazarista, o Exemplo, a que convém acrescer um esforço purificador dos obstáculos de conciliação de tendências coligadas que o Grande Homem se viu constrangido a gerir. O Futuro está em aberto e as crises em curso talvez sejam não pequeno sinal, soando para testar a nossa prontidão.

Aviso à juventude e aos seus seguidores

O Diabo, jornal fundado por Vera Lagoa e actualmente dirigido pelo jovem Duarte Branquinho, traz publicado, na sua edição desta semana, mais um artigo cultural, sobre cinema, da autoria deste outro jovem.

A Corda Com Que Se Enforquem

Há incontáveis motivos maus para infligir sofrimento aos animais, ou para com ele brincar, mas a prossecução de desígnios de luta política é dos piores que consigo lembrar. Os indivíduos que não hesitaram em utilizar o cadáver de um coelho para uma paródia fácil ao nome do Primeiro Ministro merecem um chefe de governo tão incompetente quanto ele se vem mostrando e, pior, as consequências mais nocivas que da respectiva acção resultem. O triunfo da fria impiedade abortista já tinha deixado claro que a consideração da Inocência não tem direito de cidade nas cabeças da maioria, a mesma que se deveria culpar a si própria de cada uma das muitas vezes que se engana e leva ao Poder um ministério com que logo se desilude. Em vez dos pobres bichos, ou, mesmo figuradamente, nos destes lamentáveis eleitos, deveriam dar o nó em torno do próprio pescoço, mas não o da gravata que execram, antes o do auxiliar de alívios que lhes indicou o Iscariotes, ao compenetrar-se da respectiva culpa. Se não para o acto definitivo com que aquele recusou a Misericórdia que, Infinita, o poderia perdoar dos tinta dinheiros, pelo menos como símbolo de responsabilidade, à Egas Moniz, sem sangue puro a renegar o Exemplo do Poverello de Assis, coisa muito mais preocupante que os temores da exortação à violência contra os políticos, insusceptíveis de serem achados numa graçola que, sendo cruel, não passa, para aqueles alvos, de uma chalaça leviana.

Tudo Azul?

Da Austrália, pelo Sr. Clive Palmer, surge o projecto de dar uma segunda oportunidade ao orgulhoso nome que ficou definitivamente comprometido pelo impacto esmagador do Desastre. Fazer uma réplica do Titanic, mais do que tentar o destino, é um tosco meio de tentar ganhar dinheiro à custa de uma refutação do sucedido que alimente nos presuntivos passageiros a ilusão virtual de se fazerem ou verem vencedores do Infortúnio. Até aí, nada de muito novo. Mas na ausência da novidade que se estende ao exaustivo e maníaco acervo de imitação, sobressai uma circunstância mais emblemática dos dias que atravessamos: optando por uma ilha flutuante sem INTERNET nem televisões, diminui-se drasticamente o contacto com a verdadeira catástrofe que vai sendo o Mundo em redor, proporcionando a substituta excitação da memória do risco, esterilizada pela noção da improbabilidade estatística da repetição. Enquanto que todos os que ficam de fora terão de pagar um preço muito mais alto que o dum luxo em bilhete na viagem inexorável para dias piores. O Azul da nova Estrela que dá nome à companhia está longe de apaziguar os espectros que nos assombram, salvo na residual alienação de, curiosos, seguirmos a primeira viagem do clone da tragédia.
                                               Paisagem com Naufrágio, de Jaroslav Róna

Grillados Pelo Resultado

Ingovernável, a Itália? Lembra-me ter ouvido Ernâni Lopes, certa vez, dizer que ninguém percebia como funcionava aquele País, mas o certo era que isso acontecia. Parece que o segredo estava na Administração, uma máquina que, embora burocratizada e longe de impoluta, tinha competência técnica e eficácia que compensavam as incongruências da Política. Assim no tempo da dezena de governos por ano, como antes, na função de amortecer a ruptura expressa na passagem do Fascismo para a I República. Dizem-me que Berlusconi terá promovido alguma erosão nessa instância de sobrevivência, mas suspeito de que tal se tenha traduuzido apenas numa mão cheia de substituições de cúpula. Suspeito e espero-o, para preservar essoutra Pátria de Antecedentes meus, num tempo próximo em que o "Grillo Falante" alcandorado a Consciência Colectiva que endireite os mentirosos Pinóquios dos partidos políticos consiga proporcionar a regeneração emergente da rejeição deles, cujo tom sobe e sobe. Enfim, eis a Bota Mediterrânica de novo em piloto automático.
                   O Parlamento dos Criadores de Espaço, de Gordon Onslow Ford

A Noite dos Generais

A ingratidão é um privilégio da Democracia: aos militares devem os partidos o poleiro a que para nossa desgraça se alçaram, mas, quando as dificuldades apertam, os últimos não se coíbem de martelar os pregos que faltam ao caixão do mundo castrense. Nada que me espante. Quando já não há Pátria a defender do domínio externo, administrado que é o território por um governo-drone, telecomandado de fora para atingir os alvos mais diversos por entre a População, por que carga de água deve a Tropa continuar a existir? Costarriquemos o Rectângulo, pois não precisamos de mais que polícia e reforços de protecção civil, dado o conceito de intervenção estar reduzido a diminutas participações em contingentes expedicionários de platónicas vontades, sob o comando de outrem. A decadência começou quando se diluiu a antiga expressão de «Força Armada», acrescentando os ss a substantivo e adjectivo. Seguiu-se a profissionalização. Se é certo que o Serviço Militar Obrigatório foi uma invenção totalitarizante da Revolução Francesa, a eliminação de qualquer forma de conscrição levou a transformar a arriscada carreira num funcionalismo com penacho mais visível, em que a ideia de Serviço ia empalidecendo de ano para ano. Salazar também viveu dias difíceis com a ameaça de rebelião a partir dos quartéis, mas resolveu as coisas, promovendo reequipamentos que elevassem a operacionalidade dos mínimos trágicos a que tinha chegado na Flandres, por obra e graça da República jacobina. Também, numa altura em que o Oficialato era uma elite reconhecível, empregou muitas altas e médias patentes em funções que poderiam ser desempenhadas por elementos doutras proveniências, caso abundassem as qualificações noutros meios. Uma e outra coisa faziam muito mais do que serenar os que tinham a faca e o queijo na mão - davam razões para persistirem no que, doutra forma, não excederia a célebre Miséria Dourada, quer pela noção formadora de um comando abrangente de parte significativa dos Compatriotas, como pelas condições técnicas e materiais de realização proporcionadas. Reduzir à profissionalização paroxística a "recompensa" do conceito põe as Estrelas e Galões perante uma única opção, a de deixarem de ser puxados à trela e, ao invés, comerem o regime para por ele não serem comidos. Mas duvido que lhes restem dentes para tão dura mastigação, suspeito-os de apenas reterem uma placa postiça para arreganhar em jantares como o da notícia...
                                                    O General Júnior, de Thierry Poncelet

A Arma Branca

Gosto do nome Revolução Branca, por parte da alvura, que não pelo lado da filiação no motim. O Branco reúne todas as cores, dispensa branqueamentos pleonásticos e evoca heranças tão apelativas como a do Estandarte Português pré-Liberal ou o movimento estudantil Rosa Branca que, sem violência, se opôs ao Hitlerianismo, anunciando-lhe o fim, mesmo se à custa do sacrifício dos seus próprios mentores. É na criatividade do protesto, expressa na declaração do número fiscal dos governantes e já elogiada na imprensa Britânica, que reside a força decisiva da sua redenção, intervenção bem diversa da gritaria medonha de passadistas cantarolas pseudo-subversivas entoadas sem arte nem limpeza. Tenho visto algumas almas cuidadosas ecoando receios quanto à desconformidade da coisa com a Lei, como que alinhando na caracterização espatafúrdia que o P-M faz da minoria não-ordeira, contraposta à imensidão que o aturaria. Não percebem nada: mesmo se o aparelho de Estado lhes dá uma legalidade, tornou-se evidente a inexistência de uma legitimidade, aqui sim, passada com armas e bagagens para o lado revolucionário. Por Razão e Justiça, o voto em partidos nunca deveria legitimar. Mas as Pessoas embarcaram no esquema, enquanto tiveram a barriga forrada. No momento em que a coisa muda e em que, desajeitadamente, a tirania partidocrática obriga à serventia num totalitarismo fiscal sem eira nem beira, a classe dirigente está condenada. Espera-se é que as Gentes percebam que a questão não depende de outros partidos, mas da extinção deles, única maneira de honrar o activismo destas bolsas de redistência à tempestade opressora.

O Passos Em Voltas

A sisudez da desaprovação das falsas declarações não nos deve impedir de reconhecer a genial ironia deste combate à monomania tributária do nosso Primeiro: afinal, se é ele o principal interessado na papelada, não parece adequadíssimo que ela seja preenchida com as suas identificações, no que o devemos ajudar, já que ainda não aparenta ser capaz de fazê-lo?
                                                          Primeiros Passos, de Picasso

Estou Com os Copos!

No sentido de "solidário com eles", não no de "atestado de todo"... Nesse panfleto extraordinário contra as secas que são quaisquer Leis Secas intitulado «A ESTALAGEM VOLANTE», Chesterton diz-nos que Deus e a cerveja são Duas Coisas Excelentes, o que não quer dizer que as ponha no mesmo plano. O certo é que o actual Poder, constituído à revelia de Um, queria vedar aos nossos Jovens Compatriotas a outra. É uma enormidade. A tendência, está visto, é para ir baixando a idade do voto e aumentando a do consumo dumas bebiditas reparadoras. Nem quero pensar no que teria sido a minha adolescência, privada do consolo cervejal, já que nunca bebi tanto como dos 14 aos 18 anos, a idade em que, independentemente de traumas, mais precisamos de estimulantes de sociabilidade e diluentes do que nos surge como Absurdo da Vida, em razão da falta de jeito de novatos, no primeiro caso, como da compreensível e (nos melhores exemplos) provisória estreiteza de horizontes, no outro. Que se reprimam os comportamentos perturbadores resultantes da embriaguez, está muito certo, sem contemplações para com incapacidades acidentais desculpadoras da vazão dos maus instintos. Agora, proibir é uma patetice que nem se compagina com a triunfante teorização associada às despenalizações do consumo de Droga, essa sim um refúgio grave a combater. Quanto às bebidas brancas, nunca foram a minha praia, mas não parece estranho empurrarem a permissão delas para o escalão etário em que normalmente se passa a conduzir automóveis? Proponho que se faça um imediato teste do balão ao legislador.
                          Sirin e Alkonost, os Pássaros da Alegria e da Tristeza, de Viktor Vasnetsov

O Novo Carácter Nacional

Retrato do Português Típico em 2013: O Corta-Relvas, de Lean Chew
Agora, sobre a atitude de José Alberto Carvalho e a apologia que dela aqui dá: a justificação é coerente com a expressão e postura que ostentou, durante a fracassada alocução do detestado ministro, receptivas à rabinice dos protestatários, apesar das compostas palavrinhas que lhes dirigiu. Foi nesse compromisso que traiu a sua função, pois a honra dos anfitriões exige que defendam os seus hóspedes com unhas e dentes, por muito mais simpáticos que lhes sejam os seus opositores. Na fouxidão com que reagiu reside a falta de qualidade deste Ocidente dos anos do fim, que nos acarreta o desprezo de outras civilizações, quando, antes, podendo haver ódio, não se constatava o desdém extremo. E deixem que Vos diga, o acrescento cúmplice do temor da pretensa imagem de injustiçado não faz com que agrade aos Troianos, depois de ter tentado adular os Gregos. É que o sentimento contra a alma danada do Governo é tão intenso que mesmo uma baixeza passa por acto de Justiça, substitutiva da oficial, cujos créditos andam pelas ruas da amargura, tão malparados como muitos empréstimos de recentes vicissitudes e que, ai de nós,  leva a falta de carácter a passar pela mais recente manifestação do dito...

Antifascista me Confesso!

Vergílio Ferreira tem um conto notável, «A Palavra Mágica», em que narra como, num obscuro vilarejo, uma palavra de que todos desconheciam o sentido passou, por empregue a torto, que nunca a direito, a corporizar um insulto. O termo em questão era "inócuo" e quando, no decurso de um julgamento, o juiz se recusa a dar razão ao queixoso, revelando-lhe o significado inofensivo e a sequente ausência de agravo, recebe como resposta «ser a intenção o que interessava». Por muito que simpatize com esta ingénua refutação do Calvinismo, só quero acrescentar umas poucas linhas sobre o apodo de fascista com que a tuna estudantil improvisada ruou do auditório o cadáver político ambulante que é o Ministro Relvas. Fascista lhe chamaram, sem, certamente, perceberem mais do valor do vocábulo que os colegas de Maio de 1968 que diziam ser os CRS uns SSs. Os slogans não cuidam de dicionários. Eu, que simpatizo com a aspiração de não ver aumentadas as propinas e diminuídas as bolsas, acompanho-os nessa luta, já que o Estado Social, mesmo passada a paixão de Guterres, deve assegurar o sustento da desposada Educação - como da Saúde, sua sogra - para não trair os respectivos compromissos. Corte por corte, extingam PPPs, subsídios partidários e eleições, inigualáveis sorvedouros concorrentes, ora! Mussolini, de resto, aumentou fortemente a despesa do Estado com o Ensino, pelo que, decerto, será tudo menos Fascista. Mas claro está que fascista passou a designar aquele de que não gostamos, pelo que aqui quero, imparcialmente, deixar a qualificação de fascismo à gritaria da rapaziada e à falta de senso e sensibilidade do vaiado.
                 O Duque Carlos Insultando o Corpo de Klas Fleming, de Albert Edelfelt

O Coro em vez do Couro

Pedem-me que comente a cantiga da Grândola a silenciar o Dr. Passos e o Ministro Relvas. Non possum, jamais se dirá que intervim na esfera privada duma família a que sou alheio, nomeadamente quando a mãe entenda mandar calar os filhotes...
                  Problemas de Ter Visto um Filme Proibido, de Scooter LaForgue

Bisnagada de Tolices

A folclórica e lunática captação de fiéis deste Sacerdote Mexicano quase poderia fazer reavivar a problemática que, há décadas, desencadeou o espectáculo musical «JESUS CHRIST SUPERSTAR», se esta "versão para pobres" não enfermasse de vícios doutra ordem: ao paramentar-se com heróis vingadores, subverte o supremo Heroísmo da Condição Humana de Jesus e a Insuperável Humildade da sua Substância Divina expressas no Próprio Sacrifício, na medida em que assimila o Salvador aos ícones parciais da Banda Desenhada. Já quanto à Água Benta, a sua ministração por meio de uma pistola de carnaval revela, mesmo nos limites da brincadeira que já, de todo, seriam inapropriados, uma inconsciente compreensão deste uso Dela, ao utilizar um meio de fingimento hostil para um propósito de protecção e transmissão da Verdade. Outro galo cantaria, se utilizasse o brinqudedo para esguichar o diabrete com Líquido Sacro, já que Dele foge tanto como da Cruz. Enfim, uma confusão confrangedora de uma graça com a Graça!
                               Natureza Morta. Água Benta, de Cnstantin Dimitrie Stahi

E O Oscar Vai Para...

Oscar Pistorius tem o condão de me deixar incomodado. Já escrevi, noutra encarnação blogosférica, sobre o imperativo de lhe permitir a participação desportiva que, realizando-o, lhe permitisse superar algum peso da Deficiência, apenas no domínio Paralímpico, por o recurso a meios mecânicos ser uma falsificação de mais graves consequências no pano de fundo geral do que a amputação quanto ao seu potencial competitivo em condições normais. Mas nunca imaginei o perigo que agora ganhou corpo: o de um tratamento de excepção poder ter induzido a auto-atribuição de uma moral excepcional que o desculpasse à partida de um assassínio, vulgar na sua repelência, porque cometido por um agente atingido pelos handicaps comoventes e admirado graças à não menos comovedora luta pela sua superação. O que urge também contrariar é a argumentação paterna. Pai é Pai, mas dizer que o assassino foi motivado pelo instinto desportivo ao atirar mortalmente sobre quem lhe partilhava a vida equivale a uma concepção do killer instinct no Desporto muito abusivamente para além da mera superação do adversário e, no seu absolutismo literal, ludicamente justificativa da reciclagem ética que proporcionasse o Direito ao Crime. Se não for punido como os outros, em razão da sua celebridade, estatuto atlético, ou insuficiência física, estar-se-á a dar ganho de causa a muito mais perigosa linha de defesa que a simples imaginação dos advogados que encarrilaram para a «confusão com um ladrão», rotineira desculpa de inverosímil pagador com que poderiam ter contemplado qualquer outro.
                                                      Ídolo Caído, de D. P. Stevenson

...Para Não Seres Julgado

Claro que é difícil um grupo organizado sem juízes ou professores, mas é certamente concebível um bem mehor, livre das agências de rating. Nem discutirei a acusação de não serem servidas pelo melhor dos Economistas, resevado a Universidades, Bancos Centrais e outras instituições mais respeitadas, porque decerto apareceriam protestos baseados em curricula impressionantes, reais ou imaginários, tentando ganhar pontitos nessa discussão que, mais do que ociosa, se revela odiosa. O que me interessa deixar aqui é outra nota sobre as agências de notação, a da sua previsível queda, a partir do momento em que degradam as classificações que se atribuem umas às outras. Enquanto apenas as punha em questão uma ameaça judicial, mesmo que do único Governo com poder para combatê-las, o dos EUA, poderiam defender-se com o argumento de que as administrações fervem quando as avaliações lhes não são favoráveis, apesar de estar em causa um completo falhanço da sua missão de alerta como factor importante do início de uma crise cujas sequelas ainda vivemos. Aqui é o feitiço que se vira contra o feiticeiro, com a Moodys a rebaixar a concorrente, Standard & Poors. Desde o momento em que os Estados lhes deram confiança, contratando este tipo de organismos para à apreciação deles se submeterem, a viragem de umas contra as outras expressa nos desnecessariamente prestigiados exames que realizam era a melhor esperança de repor a verdade adulterada por esta negociata improdutiva e parasitária. Não deixa, contudo, de ser coincidentemente significativo que aquela que primeiro se tramou, ao sabor de humores alheios, foi a que pela nomenclatura se assume como "Padrão" e, simultaneamente, a que integra os "Pobres"...
                                                          Julgando, de Mark Tansey

O Cano do Escape

Já cansa tanta atenção dada ao desabafo do Ex-Secretário de Estado Viegas, que nem ao vernáculo que se quis chega, por obra e desgraça da submissão a uma imaginada lusófona casa comum espelhada nas declarações, depois de falhada na grafia. O que se me oferece dizer sobre o tema é que, na época em que as facturas substituíram as farturas, a Cultura de evasão que faz de legítima defesa contra o fisco dos péssimos governantes que temos obrigará os fiscais autuantes deste arrependido a responder que não é coisa a que não estejam habituados. O pior é que, com a dimensão do buraco fiscal, qualquer esforço nesse sentido não trará prazer a quem quer que seja.

Ondas do Choque

É fácil troçar da queda do eventual meteorito junto de Cheliabinsk, logo após o raio que fez outro tanto na Praça que é o território restante da Santa Sé. Eu desconfio um tanto da prestreza com que as autoridades Russas garantiram tratar-se de um objecto astronómico, fiquei a matutar sobre a possibilidade de não ser tal designação um disfarce de algum engenho espacial, fosse militar, ou de espionagem, a que conviesse semelhante manutenção do respectivo incógnito. Caso em que seria doutro teor a lei da gravidade envolvida. Não obstante a renitente desconfiança, jogarei o jogo dentro das regras informativas que nos ditam e sempre darei aos Europeus deprimidos uma razão para serem tão optimistas como os conterrâneos de Asterix: se já se não pode garantir que amanhã não será a véspera do dia em que o céu nos caia em cima da cabeça, foi, embora à tangente, fora da Europa que o desastre sucedeu, já que a Leste dos Urais, quer dizer, do Paraíso, para os incorrigíveis centralistas do Velho Continente. Mas, mais a sério, ficam algo prejudicadas teorias da atracção destes fenómenos por mares e desertos, reduzidas assim a uma hipótese estatística ditada pela extensão dos mesmos, o que é muito menos tranquilizante, ou, no pólo oposto, não valeria a pena jogar no Euromilhões. No entanto, os mais propensos a ecoar sinais do fim do mundo podem ir arregaçando as mangas: quando se eleger o próximo Papa, segundo a célebre Profecia de S. Malaquias, será o último. E os tempos finais, com mau humor celeste e tudo, não tardarão. Mas claro que isso é para os que confundam o Celeste com o Celestial. Que, para mal dos nossos e seus pecados, são cada vez mais.

In Vino Veritas

Os vinhos são como os indivíduos: a idade ajuda a distinguir os bons dos que não prestam — os primeiros, amadurecem; os segundos, azedam.

Vale Em Ti(m)

São Valentim é um Santo impreciso, mas no sentido de que a sua história e existência são incertas, não no de que não seja necessário, nestes tempos em que o Sentimento privado pode ser uma das derradeiras bolsas de resistência à opressão da Coisa Pública, como a sua lendária insistência em celebrar casamentos contra as ordens imperiais que visavam excluir a concorrência que afastasse os recrutas. O êxito do dia a si alusivo é curioso: se pensarmos como repugna o amor concretizado a horas certas, a exemplo do que transmitiu Flaubert em Charles Bovary, também aquele que emerge em datas determinadas parece ter poucas pernas para andar, agravado por não ser um aniversário de memórias queridas de cada par, mas subsunção a incitações consumistas de mais uma quadra de alegria condicionada. Há, entretanto, mais outra razão para consagrá-lo, a reafirmação de um alívio anual por ver ainda sobrevivo um passageiro sujeito a tantos perigos, como, no caso oposto, o dos "amores mortos", a assunção curricular do naufrágio como enriquecimento e engrandecimento espirituais. Exactamente a ultrapassagem da tristeza de que, sem o explícito aproveitamento tornado inviável pela persistência já sem concretização, nos fala Nolwenn Leroy em «14 Février»:
Il y a des jours
Des jours où les dieux vous oublient,
Où certains souvenirs vous pèsent
Des jours qu'il ne faudrait pas vivre,
Où mettre entre parenthèses,
juste un jour,
que j'ai rayé
Pour toujours
14 février
Il y a des jours
Des jours qui sont des ennemis
Pire que des vendredis 13
Des jours qui passent au ralenti
Sans que les pendules se taisent
Juste un jour
Du calendrier
Juste un jour
14 février
Quand on sait le temps,
Quand on sait le mal
Que ça demande - pour oublier
Quand on sait le vide
Quand on vit ce manque
En attendant - de ne plus aimer
De ne plus aimer
Il y a des nuits
Qu'on ne voudrait pas voir venir,
Vous mettent au bord d'une falaise
Des nuits trop blanches pour s'enfuir
Parce qu'elles vous rendent mal à l'aise
Comme ce jour
Du sablier
Juste un jour
14 février
Quand on sait le temps,
Quand on sait le mal
Que ça demande - pour oublier
Quand on sait le vide
Quand on vit ce manque
En attendant - de ne plus aimer
Quand on sait le temps,
Quand on sait le mal
Que ça demande - pour oublier
Quand on sait le vide
Quand on vit ce manque
En attendant - de ne plus aimer

DRESDEN HÁ 68 ANOS...

<object width="420" height="315"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/FJP3Gl70ftY?version=3&amp;hl=pt_PT"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/FJP3Gl70ftY?version=3&amp;hl=pt_PT" type="application/x-shockwave-flash" width="420" height="315" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true"></embed></object>

Uma elucidativa e incisiva explicação...

Em Quarta

Só recentemente me apercebi de ter vindo ao Mundo a uma Quarta-Feira. E, ao viver a primeira de Cinzas, após essa descoberta, não consigo evitar a associação do dia único e definitivo com a oportunidade dada que repete todos os anos, a que oferece a possibilidade de renascimento a partir das cinzas do Erro. Também não será coincidência que o Poeta Maior de «ASH WEDNESDAY» seja o mesmo T.S.Eliot que, noutro excelso poema, nos disse que «no meu princípio está o meu fim». Tudo somado e conjugado, encontro na emblematização da abstinência a que durante tanto tempo fui alheio a decisiva correspondência sinalética aos Braços Estendidos que me auxiliem na busca de redimir-me, por toscos que os meus meios se mostrem e gigantesca que a tarefa se apresente.  É forma de expressar a recusa da recusa. Sobre a tradição de jejuar, como impulso de reciprocidade:

 ELOGIO DO JEJUM

Tentar nele Desprendimento
é tão literal como figurado mito 
pelo resultado óbvio e fatal
de ser feito da boca para fora...
E, para lá do Símbolo,
não participa do Sacrifício
salvo pela isolada variante
em habitual barriga cheia,
jeito de desfastio de turista.

Mas um maior alcance tem:
qual seja, de, na privação,
 vero irmanar, mesmo se breve e ritual,
pela matéria chegar ao Espiritual
e, sentindo daquilo em falta o valor,
matar à nascença enjoos fartos
contrários a reconhecer a valia
do Desmunido que em continuar insiste.
                                                          Fénix, das Cinzas, de Larry Algaier

Raio de Sinal!

A Ironia do raio que atingiu a cúpula de S. Pedro, em Roma, após a renúncia papal, está, justamente, em a descarga acontecer quando o Vaticano se vê privado da Cúpula que o regia. Mas isto da associação de raios à Divindade tem raízes antigas e pouco digeridas. O fascinante Antero também cronometrava os minutos que dava a Deus para que provasse existir, fulminando-o com um raio, blasfemiazinha medíocre sorvida directamente de Musset, sem, todavia, lhe ter bebido o antídoto, onde o mesmíssimo Autor Francês explicitava ser o Orgulho o Deus dos egoístas... Como Quental foi ao ponto de fundar uma Sociedade do Raio para, percebamo-lo, provar que existia, com desafios ao Céu e ao que debaixo dele estivesse, melhor faríamos em erradicar do raio de Sociedade em que vivemos essa viciação pagã em conceber redutoramente o Omnipotente como um Lançador de dardos cujos projecteis fossem os fenómenos atmosféricos em questão, à maneira de Zeus. A menos que, perscrutando o que há de universal em qualquer forma de religiosidade, nos reportemos ao Mito de Faetonte, onde o Chefe do Olimpo terminou com um desses faiscantes arremessos a condução errática e errada do Carro do Sol por aquele. E, transpondo a lição para a resolução de Bento XVI, imaginarmos a manifestação de que o rumo que Este (se) deu como Farol em queda de um Mundo está desconforme à rota certa e certeira.
                                                       Faetonte, de Sebastiano Ricci

Questão de Cismas

O último Papa a resignar tinha-o feito para ajudar a pôr fim a um cisma, Bento XVI, com a inesperada decisão, põe muito boa gente a cismar. Contra Íntimos e estranhos recusei, tão consistentemente quanto consegui, contrapor o Papa Bom, o Bem-Aventurado João Paulo II, ao Papa Mau, o Germânico que tinha sido Ratzinger, Compatriota de Hitlers e outras Merkels. A minha devoção pela Memória do Anterior Pontífice chegou ao ponto de marcar o meu casamento para o dia da Sua festa oficial. Mas sempre tentei valorar devidamente o brilho do Sucessor na Definição da Fé consubstanciada em extraordinários documentos, os quais, aliás, continuavam o labor desenvolvido como "Pluma" do Santo Padre vindo da Polónia. Também exultei com a por Si promovida  recuperação pela Igreja de Irmãos que se haviam afastado da linha oficial Dela nos últimos quarenta e tal anos. Mas não posso calar as diferenças que vejo. O Papa sente o peso da Responsabilidade e que a saúde Lhe não permite assumi-La como gostaria. Como não confrontá-Lo com O Que antecedeu, tendo penado sob o jugo Marxista, as balas terroristas e a ofensiva cultural da hegemonia Capitalista até ao fim, com o corpo, aparentemente, mais deteriorado, num arrastar da Sua Cruz, sem cedência às sereias que O tentavam com o repouso? O Papa Bento tem a minha simpatia, pela humildade com que reconheceu não continuar à altura da Herança de Pedro. A minha admiração fica reservada a Quem a Ela Se dedicou completamente até ao fim terreno. Que o Espírito Santo inspire o Conclave Eleitor, não duvido. Mas está escrito em algum lado que faça outro tanto, quanto a uma renúncia? Nesta Quaresma que deixa, durante algum tempo, um pouco órfãos tantos Cristãos, comprometo-me a não engrossar as claques por este ou aquele "Papável", jogo bom para jornalistas, mas distracção fatal da centralidade da Mensagem do Salvador. 

This is this


«Stanley, see this? This is this. This ain't something else. This is this. From now on, you're on your own.»

O Fim da Picada!

Evito com toda a cautela a aquisição de carne passada pela máquina que não sofra essa operação diante dos meus olhos. Por isso, no que pessoalmente me tange, estou tão tranquilo quanto incomodado por ver um animal que especialmente me agrada, o cavalo, substituir os bovídeos, por injusta que para estes seja uma tal reserva de matadouro. Indo ao que importa, de cavalo para burro, ou seja, dos sacrificados para os consumidores, esta triste negociata desperta-me para duas observações; 1 - a cadeia de intermediários (ou melhor seria dizer camuflagens?) só parece comparável às de lavagem de dinheiro, tantas são as voltas que o material para alimentação dá! O que me faz perguntar: mesmo que não houvesse falcatrua e as normas e rótulos tivessem sido cumpridos à risca, o preço não seria elevadíssimo, sem outra necessidade que a de sustentar inúteis?
2- Mas há mais, a pronta responsabilização da origem Romena, se não espanta pelo mau nome que se generalizou ao que dos Cárpatos vem, também me parece uma via fácil para isentar Nórdicos, sempre tão orgulhosos dos controlos e higiene que impõem e que, aqui, ou se mostram coniventes, ou, como preferem, incapazes. Mas também nós não nos podemos excluir da culpa a registar em semelhante cartório, na medida em que permitimos e fomentamos uma Sociedade onde é compensador abater a elite identificável no Cavalo, em vez de elementos da Manada, aparentemente, salvo na Índia, para o fim vocacionados. O que é uma alegoria do que se passa com os humanos...   

                       Cavalo entre Cavalos, de Eemyun Kang

Revolta Contra as Fórmulas

Nunca alinharei na desconfiança brutal de alguns espíritos mais resistentes, calejados e impiedosos que atribuem a Depressão aos vícios da abastança mimada e sentenciam a ocupação dura como o melhor dos remédios. Jamais gostei de troçar da sensibilidade e vejo por todo o lado exemplos, justamente, de ser a exposição a excessos profissionais uma das maiores contribuições para o arrasante distúrbio. Tão-pouco minimizarei o drama da incomunicabilidade com filhos resultante do autismo deles, como  do desespero ou deficiências próprias. O meu ponto é outro e aponta para a observação da perversidade da acção de alguns anti-depressivos. A catadupa de casos de mães que traíram o seu estatuto sob o efeito deles, ao ponto de acabarem com aqueles que tinham trazido ao Mundo, faz-me pensar se não seria mais avisado evitar o repouso na esperança das suas potencialidades terapêuticas, quando parece apenas terem fortalecido a decisão assassina. Ou para nada servem - e não se vê por que usá-los -, ou ajudaram a reunir forças para a maldade mais repelente e, então, há que proscrevê-los. A alternativa? Talvez uma educação para a mitigação das expectativas, nomeadamente a da Felicidade, de modo a impedir que com o desmentido dela se identifique o Absurdo da vida, antes constatável na forjada omnipotência das nossas aspirações içadas ao estatuto arrogante de planos...
                                           Mãe e Filha, de John Frederick Leighton

PÍLULAS & PÍLULAS

Transfiram lá para o consumo imediato
a busca falhada da Sanidade!
Num simulacro alvar de Cultura,
a tranquilidade serve-se em pastilhas,
colmatando pastilha maior que é a vida,
aquela que a poucos serve.
Obtenham, vá, pelos químicos,
a composta pose instantânea,
como outros alienados, no hospício,
serenando após lobotomias.
Caísteis na ingénua pecha
de aceitar à letra ser uma Química
a interacção, logo uma receita,
em ordem à exterior satisfação.
Desistentes do auto-domínio,
anestesistas de toda a esfera do sensível,
recebendo em mais uns comprimidos
as ideias feitas com que vos arranjais,
sem perceberdes que os anti-depressivos
adiam umas horas o desespero
e, o que é pior, para sempre,
a percepção mais contundente
de que verdadeira e profunda depressão
é o Homem incurável.

A ideologia do género contra o sexo

Este número da revista “Éléments” tem uma capa provocadora que chama a atenção para o óptimo ‘dossier’ sobre a “ideologia de género”, mostrando a bela Brigitte Bardot com o título magrittiano “Isto já não é mais uma mulher”.



Esta é uma revista que existe desde 1973 e cujo título completo, traduzido para português, é “Elementos para a Civilização Europeia”. É, das três publicações periódicas do GRECE, aquela que se destina a um público mais alargado e por isso é vendida em quiosques. Dirigida por Michel Thibault, tem como natural figura de proa o pensador francês Alain de Benoist, que ficou conhecido como o “pai” da chamada Nova Direita. Este não só é responsável por vários artigos de fundo e reflexões pertinentes, como também assina o editorial com o pseudónimo Robert de Herte.

O número referente ao último trimestre de 2012 desta “revista das ideias” é alargado e tem 96 páginas. O tema central é o das chamadas “teorias de género”, que partem do princípio que a identidade sexual é o resultado de uma construção social. Assim, as mulheres não seriam oprimidas se não existisse o conceito de “mulher”. Para os partidários desta corrente de pensamento, é então necessário destruir as categorias de “homem” “mulher”, que não existem, para libertar a humanidade. Por mais que nos possa parecer estranho, estas são posições que ganham cada vez mais adeptos e influência. Para as contrapor, este ‘dossier’ oferece vários artigos com argumentos inteligentes e fundamentados. Destes há a destacar os artigos de Alain de Benoist “Viva a diferença!”, que recorre à biologia, à neurobiologia e à psicologia evolucionária para responder à pergunta “o ser humano é ‘neutro’ em matéria de sexo?”, e “Abaixo os homens!”, sobre o novo feminismo moralizador e repressivo, e o artigo de Xavier Eman sobre a rede social Facebook, a infidelidade conjugal e o divórcio.

De referir, também, a entrevista com Myret Zaki, chefe de redacção de uma revista económica suíça que afirma que o doar se tornou a maior bolha especulativa da História. Sobre o caso Richard Millet, cuja publicação de “Elogio Literário de Anders Breivik” em apêndice ao seu ensaio “Língua Fantasma” gerou uma tempestade editorial e política em França, podemos ler os artigos de Michel Marmin, Gabriel Matzneff e Olivier Maulin, e a entrevista com Pierre-Gillaume de Roux feita por Pascal Eysseric.

Uma curiosidade para portugueses, no artigo de Pierric Guittaut sobre o romance policial, é a utilização para ilustração de uma capa de uma edição nacional de “O Pregador”, de Erskine Caldwell, com um desenho de Paulo-Guilherme d’Eça Leal.

Por fim, atenção para os artigos de Jean de Lavaur sobre Christopher Lasch, intitulado “O homem revoltado contra a mercadoria”, e a entrevista com o filosofo italiano Contanzo Preve.

De Cabeça Perdida

A "descoberta" da cabeça complementar da célebre vulva de Courbet não só é pretensa, como pretensiosa. Quer dizer, tenta dar-se ares de consumação duma pesquisa exaustiva, sem perceber que, na remota hipótese de estar certa, destrói um quadro célebre, em vez de o enriquecer. O que salva A Origem do Mundo da subsunção à Pornografia é o título, embora o faça perder-se, face à Lógica e à Divindade. Com efeito, a proximidade da focagem do orgão e a ausência de enredo, mesmo pictórico, alinham perfeitamente com a noção de Porno que uma Escritora Espanhola deu acerca dos filmes, para os separar dos eróticos - a camera não mexe e não há beijos. Ao reduzir a génese do nosso quinhão de universo a um orgão reprodutor, o Artista salvou-se de tão vulgar crime, mas atolou-se na impossibilidade que é o instrumento de um coito ser o Princípio, pela necessidade que ele implica de dois seres animados pré-existentes que o atestem, em todos os sentidos... É, portanto, um mero desabafo tendendo ao ateísmo, para excluir Deus da Criação. Mas esta má-criação deixa de ser perceptível - e decerto não foi percebida -, se lhe procurarmos juntar um rosto. No País da Guilhotina, melhor fariam, para não matar a Arte, que se dedicassem à pesca de crânios perdidos de outras paragens, por exemplo, o da Vitória de Samotrácia, e deixassem em paz o trabalho de um seu compatriota que assim o exige. Porque o contrário é que, desmentindo ironicamente a tela deles desprovido, não tem pés nem cabeça.
                                                        Cosmogonia Elementar, de Magritte

Voltar Atrás

Como a maior parte de nós dista bastante de Madre Teresa de Calcutá e de outras Santificadas Almas que foram consequentes com a empatia que o horror do sofrimento deveria despertar, a fome, porque pensada como sobrevivendo apenas noutros continentes que não o nosso, era pretexto para incómodo e pena, mas não perdurava como preocupação prioritária. Neste momento, chega ao País que é emblema e marca fundadora da nossa Civilização e seria caso para perguntar se a terciarização da Sociedade terá valido a pena. Claro que o esbanjamento e a promoção do consumo irresponsável foram os detonadores da catástrofe, mas já dizia o Povo que quem se encostasse ao torrão não levaria grande trambolhão. Um dos principais objectivos da Integração Europeia era elevar os rendimentos dos Agricultores, mas depressa foi adulterado pela hegemonia das produções capazes de alimentar as redes distribuidoras e grandes superfícies de venda. Acresce que, pelo menos desde o meu tempo escolar, se falava do Êxodo Rural como um factor predominantemente positivo, pese a explosão de bairros degradados em algumas periferias, o que se admitia no tocante aos Trabalhadores Rurais de base, mas se torna um tanto mórbido com a reconversão de muitos pequenos agricultores independentes. A imagem que acompanha o artigo linkado não deverá ser vista em Portugal, no Futuro próximo, pelo singelo motivo de, cá, laranjas terem conotações com realidades cada vez menos apetecidas. Mas valerá a pena tanto trabalho técnico para aumentar a podução e afastar o fantasma da décalage para crescimentos geométricos da População, quando a conveniência de outros mercados substitui aptidões agrícolas por frustrações no barómetro da capacidade de compra guindada a critério de prestígio e felicidade?
                                                   Mercado, de Henry Charles Bryant

O Outro Lado do Assobio

Eu bem sei que, depois do tal Baptista precursor de falsificações, para desgosto do Grande Santo do nome, o curriculum de um participante na vida pública lusa passou a ser mais elemento incriminatório do que justificação de promoções. Mas no caso do Secretário Franquelim, parece-me muito plausível que, após o erro da indigitação, estejamos simplesmente perante um de... digitação: o zero está tão juntinho ao nove no teclado que, realmente, só a ânsia de chicana pode ver fraude onde apenas terá havido falta de cuidado, na consagração de 1970 por 1979. Há, no entanto, outros lados que merecem vaias, a começar pelo descaro com que o Ministro Relvas assobiou para o dito. Ninguém lhe perguntou desde quando conhecia a nova escolha governativa, mas o que achava de ela apresentar uma informação difícil de compatibilizar com a base factual. O duvidoso e contentinho humor com que contestou dá, por si só, nota da ausência de qualidade do inquirido. Tal qual a insistência pleonasticamente pobre do Ministro Álvaro na ficção de que as referências e aprofundamento investigatório à passagem do nomeado por negócios consensualmente vistos como escuros equivalem a um «linchamento público». Não conhecendo linchamentos privados, parece-me que temos uma reedição da «cabala» do Dr. Ferro Rodrigues, a propósito do lodaçal casapiano. É esta a Ética Republicana, responder a acusações específicas com imputações de intenções antagónicas, num recurso infantil à perseguição que só não é mania porque, desgraçadamente, as prevaricações do estilo vão sendo reconhecidas como um sintoma de lucidez. Aquela que falta quando se dá os nomes de "competitividade" e "empreendedorismo" a departamentos governamentais, ou seja, a que substitui por desideratos o que devia ser coutada das realidades...
                                                    O Choque do Antigo, de Peter Ravn

Tss Tss!

Está tudo explicado na notícia desta relação! Afinal, tanto apelo à vacinação contra a Gripe não era simples fruto da vulnerabilidade, essa sim verdadeiramente epidémica, ao Terror que medra em cada notícia de potencial alastramento de epidemias, senão uma efectiva inoculação da Doença do Sono que permita aos condutores do País sobreviverem graças à apatia inerente à injectada maleita. O processo torna-se transparente, se tivermos em conta que a prosperidade deste mal se funda na capacidade de um pequeno número de parasitas fintar os anticorpos que o organismo - e o Social não é excepção - contra eles segregue, atingindo somente uma maioria dos seus congéneres...
                                     Mosca TséTsé, ou, como sugiro, Retrato Dum Político

Malhas Que a Vida Tece

Esta peça esclarece muito pouco, desde a misteriosa formulação "identificar que" do título, aos resultados publicados do inquérito. Tenho uma desconfiança de que os perigos aventados pelos jovens correspondem mais aos continuados alertas com que os massacram, do que a percepções geradas sem tais estímulos e por sua exclusiva iniciativa. Mas não é isso que importa. Para mim, a net ocupou o lugar dos espelhos. É perigosa porque reflecte os perigos da vida, pelo que pretendê-la segura será um anseio sem esperança de concretização. E até nos nossos temores diante dela se assemelha aos medos irracionais perante os vidros reflectores, desde a passagem da Morte para nos alcançar, como Cocteau celebrizou, aos mundos fantásticos a que não pertencemos mas em que mergulhamos, à maneira de Alice. A Pornografia e a Violência, parecem-me, assim, menos perigos do que viciações de busca. Já, as emergentes da própria experiência, como mentiras, insultos e quebras de prestígio são as calosidades do atrito da entrada no grupo social, com o habitual cortejo de desilusões. A Rede até pode minorar a insuportabilidade desses percalços, desde que se não permita que a vida em estado de iniciação se detenha demasiado em frente do computador, o que se obterá com a reaplicação da Sabedoria do «ECLESIASTES», quando nos ensina que há um tempo para tudo. O maior problema está na expressão numérica dos envolvidos em caso desses, pelo que urge explicar aos educandos, desde pequeninos, que o número não deve tomar o lugar da Qualidade no açambarcar da importância, coisa que poderá funcionar, igualmente, como vacina contra a Democracia perversa que nos aniquila. Quanto aos contactos com desconhecidos, não fosse ali, noutro sítio seria. E não parece menos problemático passar mais tempo em casa, enquanto os empreendem? Foi a curiosidade que matou o gato, o que talvez não tivesse acontecido se ele a tivesse saciado na INTERNET.
                                              Trabalho de Rede, de Maryann Lucas

Porquinhos e Lobo Mau

Se não a decência, ao menos a compaixão, obrigam a desagravar o Porco. Faz parte da minha cadeia alimentar, não tenho a consciência limpa, mas posso insurgir-me contra os maus tratos adicionais que sofre. Desde o desprezo e nojo Semitas que levam à total rejeição e à coincidência com o pior dos insultos, ao tão democraticamente idolatrado Orwell, é o pobre suíno usado e abusado para os sublinhados do desrespeito, Nem na Mensagem Evangélica se livrou de ser o asilo dos demónios exorcizados admitido pelo Salvador, com o afogamento sacrificial da ordem; nem S. Francisco, com a reconfortante sintonia com a obra extra-humana do Criador o tomou explicitamente como irmão, preferindo-lhe o lobo, dado como figadal inimigo na historinha célebre. Agora, sobre o porco do Miguel Sousa Tavares, impõe-se um desagravo. Quer o opinion maker vedar-lhe até a relevância como notícia, o que implicaria o direito livre e gratuito de qualquer guarda republicano a chutar o pobre bicho. Daqui, donde Poucos me ouvem, lavro o meu protesto: não me parece dignificar o uniforme de uma força da ordem a descarga indisciplinada de mau humor num inocente, mesmo que passe por irracional. E a vara que era transportada para o matadouro, donde seguiria para as nossas mesas sem ser ouvida ou achada, não era a responsável pelo acidente que espalhou na estrada os bácoros, a obrigação de os transportar com segurança e evitar acidentes cabia às alimárias humanas. Mas eis que entendo o que quer dizer MST: com efeito, nos dias que vivemos, não se percebe que a injustiça ainda seja notícia!

Divertimentos de Rua

Quem canta seu mal espanta poderá ser muito verdadeiro, mas para o seu sofrimento pessoal e intransmissível. Quando é colectiva a indisposição, torna-se redundante e repulsivo o protesto que opte por dançar e cantar. Não só porque a gravidade dos golpes acarreta a desconfiança perante formas tão alegres de contestação, como por, mesmo metaforicamente, estar inculcada no Grupo a noção de que, cada vez mais, a vida é uma dança e de que propostas pouco articuladas de a remediar são mais uma forma de nos dar música. Quando a infelicidade decorrente das más governações aperta, a necessidade de reagir não se compadece com estratégias circenses de passeios públicos, a irreverência festiva só acha terreno favorável em tempos de comparativa fartura. As Pessoas que sentem na carne os efeitos das aleivosias estatais já não têm disposição para alinhar com pantominas. Daí que os organizadores desta jornada de luta não se possam queixar da fraca adesão, nem sequer com ela surpreender-se: a RUA está reservada como destino a dar aos políticos incapazes, não como local de ocupação das vítimas deles.
                                         O Saltimbanco e o Xadrez, de Paul Vanier Beaulieu

O Fim do Princípio

É muito importante o esclarecimento que o Dr. Gusmão nos traz, mas penso podermos ir ainda mais longe: não só o álcool já não é uma motivação importante dos suicídios, como até pode ajudar a evitá-los. A sua oposição aos antidepressivos não é da natureza da barreira, mas da da concorrência, uma vez que muitas etilizações têm ajudado a suportar o peso de uma realidade angustiante indutora da precipitação da morte, como alívio. No caso dos idosos, a acentuação das noções de que a Esperança é coisa que tem idade própria, já passada e ultrapassada, é hoje estimulada pela tripla insensibilidade dos discursos e das políticas que fazem deles um peso para a população activa, lhes tiram os parcos pontos de apoio a que se tinham agarrado com pés e mãos e enfraquecem o pano de fundo do horror comunitário e a Condenação Divina perante a relevância da vontade do termo. Chegámos a um vazio de sentimentos e interacções tão triste que matar-se pode voltar a ser visto como uma consequência da lucidez, à maneira de certas escolas de pensamento da Antiguidade, e não já como uma doença, ou um triunfo do Mal. Ou seja, deita-se em poucos anos para a lixeira o manancial de resistências que a Cristandade levou séculos a pôr de pé, sem que o valor do Sacrifício consiga impor-se mais, tão grande é a avalancha de frustração do hedonismo sem arte, contrapesos ou... consumação que nos esmaga. Essa debandada de razões resulta, forçosamente, para muitos, no Princípio do Fim.
                                        Dizer a Verdade É Um Suicídio, de Natee Utarit

Explicação do Pássaro

Não faço a menor ideia se a actividade profissional do Sr. Franquelim foi meritória ou desastrosa, se, na relação que teve com indisputáveis e negregados buracos do sistema, os seus actos e omissões minoraram ou agravaram os males. Acho natural que se escrutine a sua passagem por empresas privadas para aquilatar da presença de favorecimentos ou simples vícios da tão bem carpida porosidade no seu desempenho governativo. Uma única coisa posso desde já afirmar, sem qualquer risco de injustiça - é falsa a afirmação de que «sempre se norteou pelo rigor e a exigência». Se assim fosse, nunca teria podido aceitar integrar o presente executivo.
                                      O Queijo dos Esquemazinhos, de Kostya Prozorovsky

À Bolachada!

Fui e continuo a ser um fervoroso admirador do Monstro das Bolachas. E se o recentíssimo altruísmo dele poderia, à primeira vista, descaracterizar a personagem, o facto de investir contra o egoísmo das multinacionais seria suficiente para, a meus olhos, proporcionar redenção. Que a causa comum das Crianças e a dos Animais é recomendável, não pode ser posto em dúvida, pois mesmo aqueles que lhes contestam a inocência têm de admitir que são os únicos seres animados a não poderem ser responsabilizados pela derrocada civilizacional que atravessamos, por não terem direito de voto nem audiência os respectivos pontos de vista. Ademais, quem, senão ele, presentemente, admitiria não ficar com o ouro de que se apropriara? O residual receio da ingenuidade leva-me, não obstante, a temer que a prontidão da cedência da produtora de biscoitos alemã configure um golpe publicitário imaginoso, sem ter de pagar retribuições a esta Estrela do Showbusiness. O que me catapulta, com todas as ganas, para uma reflexão acrescida: apesar de muito criticarmos o mundo empresarial dos Estados Unidos, constata-se lá, nos indivíduos como nas companhias, uma tradição e uma prática filantrópicas com mais raízes, discrição e razões do que a dos meros benefícios fiscais e de imagem. É bem verdade, em qualquer lado há Luz e sombras, não tombemos no orgulho da moralização unilateral.